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Foto do escritorFrancisco Marques

Estro humano



uma mulher a dançar
Uma mulher a dançar

Então e onde é que um cientista vai investigar a existência do estro humano? É isso mesmo: num bordel.


Pois é, isto só podia acontecer nos Estados Unidos. Num artigo chamado “O efeito do ciclo ovulatório nas gorjetas recebidas por lap dancers: evidência económica do estro humano?” vários investigadores foram avaliar isso mesmo: se o cio humano (ou algo do género) ainda existe… Bem, podia terminar por aqui, mas ainda tenho de encher mais uns minutitos.

Pronto, como é que eles estudaram isto? Pegaram em dezoito bailarinas, registaram o ciclo menstrual, os seus turnos de trabalho e as gorjetas ganhas durante 60 dias. No fundo, um Big Brother só com mulheres. E quanto é que as bailarinas ganharam por partilhar estes dados para fins científicos durante estes 60 dias? 30 dólares. Qual foi a média de gorjetas por dia a cada bailarina por fazer danças no colinho? 185 dólares. Volto a repetir, 185 dólares por dia. Calma, isto na fase de maré baixa. Quando está na maré alta passa para os 335 dólares por dia. 335 dólares por dia. Mas já vou explicar isto mais à frente. O que interessa aqui referir é que trabalhar para a Ciência dá a módica quantia de 15 dólares por mês, enquanto ser bailarina num bordel dá, na pior das hipóteses, 185x22 = 4070 dólares por mês. É isso. E ainda dizem que as mulheres são prejudicadas em termos salariais… calma, brincadeira. Voltando ao estudo. Por que é que existem esta discrepância de valores nas gorjetas? Por exatamente existir aquilo que eles queriam provar. É que existe mesmo uma diferença do valor recebido de gorjetas durante o ciclo menstrual de uma lap dancer. Portanto, as participantes ganharam por dia cerca de 335 dólares durante o período do estro (fertilidade elevada), 260 dólares durante a fase lútea e 185 dólares durante a fase folicular onde se inclui a menstruação (fertilidade baixa). Reparem bem nisto: existe aqui algo que faz com que o homem entregue um maior ou menor valor pela dança recebida da bailarina. Ou é um desconforto da bailarina que está menstruada que a torna menos predisposta a seduzir e a entregar-se ao cliente, ou então, o próprio cliente consegue sentir um período de fertilidade menor quando a bailarina está na fase folicular e isso prejudica o valor pago pela dança. Os autores dizem que podem ser ambos. O que é certo é que mesmo que os homens consigam detetar estes períodos, não o conseguem com tanta precisão, uma vez que durante as fases lútea e folicular os ganhos não descem para zero (são 260 e 185 dólares, respetivamente). Nós, homens, não podemos ser perfeitos…

Outro dado interessante é que das dezoito bailarinas, sete usaram pílulas contracetivas durante este estudo. E o que é que aconteceu aos ganhos destas meninas? Os ganhos estavam estáveis tal como o seu ciclo menstrual, ou seja, não apresentaram o pico de ganhos durante o denominado cio que as outras bailarinas apresentaram. Este estudo foi publicado em 2007 e foi a primeira evidência económica direta da existência e da importância do estro (cio) das mulheres contemporâneas, em contexto de trabalho no mundo real.

Os autores, no entanto, acrescentam que este estudo tem algumas limitações:

1)      O tamanho da amostra dos participantes é pequeno. São dezoito bailarinas, embora inclua 296 turnos que representam cerca de 5300 danças.

2)      Este estudo não identificou concretamente os mecanismos que influenciam os ganhos de gorjetas, isto é, será que foi o aroma corporal, a atratividade facial, a simetria corporal, a criatividade ou a fluência verbal que ajudaram? Ou seja, pode haver outros fatores em que as bailarinas se apliquem mais para dar uma melhor lap-dance do que o estar na fase fértil do ciclo menstrual. No entanto, os investigadores dizem que é improvável que estes ganhos sejam influenciados por mudanças de movimentos de dança de palco, roupas ou diálogo, porque as pistas de dança simplesmente não variam muito de bailarina para bailarina. Basicamente, as bailarinas são todas iguais. Cai por terra que as mulheres são todas iguais. Não! As bailarinas é que são todas iguais.  

Por último, os autores referem que o padrão de ganhos de gorjeta é semelhante ao padrão dos níveis de estradiol (a hormona sexual feminina mais importante) ao longo do ciclo menstrual, portanto, é plausível que os níveis de estradiol possam estar envolvidos nos ganhos das bailarinas. No fundo, isto é tudo hormonal, tal como quando a vossa namorada diz que o peso que ganhou depois de comer McDonalds’ toda a semana, tem origem de um desvio hormonal. É o que é.

Até à próxima.


(Estudo: Ovulatory cycle effects on tip earnings by lap dancers: economic evidence for human estrus? ☆ Geoffrey Miller⁎, Joshua M. Tybur, Brent D. Jordan)

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