Pizza faz bem à saúde?
- Francisco Marques
- 26 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Todos nós já ouvimos dizer que a fast food não faz nada bem à saúde. Será verdade? Fiquem aí, porque vamos ver o caso da pizza. Houve um estudo italiano protagonizado por um senhor chamado Gallus, que avaliou a implicação da pizza no cancro da cavidade oral, da faringe, do esófago, da laringe, do colon e do reto. Há que o dizer que este estudo foi bastante completo, uma vez que foi realizado durante 10 anos, envolvendo quase 8000 pacientes. Ao ler este estudo e outros deste mesmo grupo sobre a influência da pizza noutras doenças, fico com a sensação de que por um lado querem ser claros a dizer os resultados obtidos, por outro lado não querem ferir esse símbolo nacional que é a pizza que tanto admiram e que tanto representa internacionalmente. Os autores referem muito sucintamente de que a pizza é um indicador de risco de neoplasias do trato digestivo. No entanto, parece-me de que tentam, de certa forma, compensar esse grande símbolo nacional ao referir algumas propriedades dos ingredientes em que se provou que, isoladamente, funcionam como agentes preventivos do aparecimento do cancro. Aliás, para defenderem o símbolo nacional referem que a dieta mediterrânica (bastante abrangente, por sinal) é boa na prevenção do cancro. O problema é que, embora a pizza tenha origem de um país mediterrânico, não é propriamente um standard de comida mediterrânica. A pizza é mais a exceção do que a regra. No fundo, a pizza é a ovelha negra da família gastronómica mediterrânica. Não estou a dizer que a pizza não tenha o seu espaço na cadeia alimentar, mas considerar pizza fazendo parte da dieta mediterrânica é como considerar o COVID-19 a peste negra moderna. Nada a ver. Portanto, a pizza apesar de ter o seu lugar bem patente na dieta académica (quem já não comeu aquele combo de coca-cola e pizza durante a juventude? Nem era preciso estar de ressaca) não é propriamente o melhor exemplo a apresentar a um estrangeiro que vai, pela primeira vez, degustar uma refeição mediterrânica. É como apresentar a francesinha como um prato típico da cozinha portuguesa. Não desfazendo as qualidades (principalmente calóricas) da francesinha, podemos concordar que ela é capaz ser o exemplo mais fast fooder que existe na nossa gastronomia. Fast fooder. Brilhante. Isto tudo para dizer que usam um estudo bastante abrangente que considera a dieta mediterrânica como uma excelente dieta para prevenir o cancro, para efetivamente dizer que a pizza previne o cancro. É a mesma coisa que sabendo que a dieta mediterrânica é uma excelente dieta, quando comparada com a americana, principalmente em termos de gordura, dizer que a francesinha é um excelente alimento para combater a obesidade. Mentira. Não é, criança. Portanto, larga os doritos e vai comer alface do campo. Assim, estes investigadores chegaram a conclusão de que já toda a gente sabia, mas não queriam partilhar por conflito de interesses: moderem o consumo de gorduras e, consequentemente, de pizza. Outro estudo deste grupo de investigação, avaliou o efeito de consumo de pizza no enfarte do miocárdio. Mais uma vez, e na minha opinião, não foram muito claros. Foi um estudo que envolveu um menor número de pessoas, cerca de 500 casos não fatais de enfarte, e outros 500 de controlo que referiu que alguns ingredientes da pizza tem um efeito benéfico na saúde cardiovascular. Mas mais uma vez, avaliam o efeito de cada ingrediente isoladamente e não em conjunto aquando são confecionados numa pizza. Isso é como dizer que uma equipa de futebol só constituída por estrelas iria resultar e ganhar o campeonato. Bem sabemos que algo que funcione isoladamente não garante que funcione em conjunto. Portanto, chegamos ao final desta reflexão e não chegamos a conclusão nenhuma. Peço desculpa pela perda de tempo.
Estudo: "Pizza consumption and the risk of breast, ovarian and prostate cancer"
Silvano Gallus , Renato Talamini, Cristina Bosetti, Eva Negri , Maurizio Montella, Silvia Franceschi, Attilio Giacosa and Carlo La Vecchia
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